Atriz sul-africana Nomzamo Mbatha fala sobre como o longa aprofunda o legado do primeiro filme
Ana Beatriz Martins de Souza
fonte: www.omelete.com.br
em: 05.03.21
Quando o primeiro Um Príncipe em Nova York estreou em 1988, o mundo foi impactado por um retrato de uma nação africana
absolutamente diferente do que Hollywood estava acostumada. O país fictício de Zamunda - criação de Eddie Murphy - deu ao
público ao redor do mundo uma imagem majestosa do continente,
sem animais selvagens fora de controle ou povos miseráveis.
Zamunda ainda provou ao mundo que um longa inteiramente
conduzido por um elenco negro poderia ser bem sucedido ao
redor do globo. Apesar de ter sido recebido de forma morna pela
crítica da época, Um Príncipe em Nova York foi um dos maiores
sucessos comerciais daquele ano e hoje tem status de cult e uma
legião de fãs.
Com uma revolução já estabelecida pelo primeiro filme, a sequência,
que chega mais de 30 anos depois, tinha a responsabilidade de honrar
um legado, mas ela foi além. Em Um Príncipe em Nova York 2, ao
invés de simplesmente se apoiar no sucesso do primeiro, o roteirista
Kenya Barris e o diretor Craig Brewer decidiram atualizar a história de
Zamunda - isso, em 2021, significa mudar as leis do reino, reimaginar o
primeiro e trazer mulheres para o centro do novo filme.
Em Um Príncipe em Nova York 2, a personagem central nesse
sentido é vivida pela atriz sul-africana Nomzamo Mbatha,
estreante em Hollywood, que interpreta Mirembe, uma cidadã
de Zamunda que questiona as leis do país. Ao invés de ser uma
carregadora de flores ou uma banhista - função executada
pela maioria das mulheres do reino - ela escolheu ser
cabeleireira. Para Mbatha, a decisão de retratar vozes
femininas que não fazem parte da nobreza foi fundamental: “Foi muito importante para mim retratar uma mulher que não
teve acesso à vida mais luxuosa e aos benefícios do palácio”,
disse ao Omelete. “O filme faz um paralelo com a minha
vida.”
Pôster de divulgação Um Príncipe em Nova York 2 Imagem: www.amazon.com.br |
Mbatha é uma atriz já estabelecida na África do Sul e porta-voz
da Agência de Refugiados da ONU, e entende Um Príncipe em
NovaYork 2 como a sua própria viagem à América - a atriz fez a
comparação usando o título em inglês, Coming to America.
“Para mim, que sou da África do Sul, poder representar o meu país
e meu continente tem a ver com quão verdadeira, quão real e
complexa eles queriam que a sequência fosse”.
Ela continua: “Mirembe tem orgulho de quem ela é e de onde veio,
e eu também. [...] Eu falo em nome de pessoas marginalizadas, em
nome de refugiados, e foi importante para mim emprestar da minha
própria vida, sendo um reflexo e uma voz de algo que eu sei que
existe muito nas mulheres”.
Princesa Meeka e Akeem Imagem: www.metropoles.com |
E enquanto Mirembe é o maior exemplo de independência
feminina, o novo longa é repleto de mulheres fortes que circundam
a vida de Akeem, ajudando-o a perceber o quanto a voz feminina foi
importante na sua formação.
Apesar de tratar de diferentes questões - de relação pai e filho,
busca de identidade e propósito, e comunicação - o empoderamento
feminino é o maior tema de Um Príncipe em Nova York 2: “este
filme é atual, ele fala de hoje em dia, e coloca mulheres poderosas
na linha de frente”, diz Mbatha, elogiando as decisões do diretor: “eu amo que ele deu às mulheres a agência para torcer por elas
mesmas”.
Nomzano Mbatha Imagem: www.essence.com |
O Papel de Hollywood
Discussões sobre o papel das mulheres na sociedade,
como em Um Príncipe em Nova York 2, é algo que faz parte
de um movimento claro do entretenimento atual, que questiona
papéis rasos femininos e já não deixa mais passar tão facilmente
o retrato questionável das mulheres em grandes produções.
Para Mbatha, este é um dos papéis da indústria, e Hollywood
tem uma responsabilidade de estar no centro dessa conversa.
“Por muito tempo a gente construiu esse sistema, mas a gente
nunca conseguiu se beneficiar dele. Finalmente estamos
conseguindo.” Além de dar voz a jovens e construir um retrato
poderoso das mulheres de Zamunda, Um Príncipe em Nova
York 2 concilia essa mensagem muito bem com o elemento da
comédia - algo que para Mbatha está acima de tudo. Para a atriz,
é exatamente o gênero do longa que pode fazer diferença nos
dias de hoje:“a comédia não ganha tanto crédito. Mas esse filme é
unificador, e é o que as pessoas precisam. A gente quer rir de novo.
E esse filme é o antídoto perfeito para o período difícil que estamos
passando”.